sexta-feira, 7 de maio de 2010

Zoológico dos Franciscanos preserva espécies resgatadas

Canindé. Registrado no Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama), sob o número 681.769, o Zoológico de São Francisco das Chagas de Canindé destaca-se pelo grande trabalho de readaptação de animais que sofreram maus tratos nas mãos de traficantes.

"A vinda do urso Dimas para Canindé deu uma nova dimensão ao nosso trabalho no tratamento dos animais. Isto porque as pessoas passaram a visitar mais o zoológico e estão comprovando como é que cada bicho que existe aqui é cuidado", afirma o veterinário do local, Henrique Weber. Suas palavras retratam bem o trabalho desenvolvido pelos funcionários do zoológico, que abriga cerca de 400 animais das espécies répteis, mamíferos e aves.

Diariamente os bichos recebem acompanhamento de cinco tratadores que seguem uma planilha de alimentação e dieta variada de acordo com a espécie. "Criamos uma sala de nutrição que conta com um funcionário específico para esse trabalho", explica a bióloga do zoológico franciscano, Alecsandra Tassoni, que divide seu tempo em cuidar dos animais ao lado de Henrique Weber.

Vínculo especial

Segundo informa a administração da unidade, os custos mensais para manutenção de todo o trabalho ficam em torno de R$ 17 mil.

Para se ter uma ideia da dimensão do trabalho que está sendo desenvolvido em Canindé, basta passar um dia acompanhando o trabalho da bióloga, do veterinário, dos tratadores e dos estagiários. A reportagem passou três dias ao lado dos tratadores, conhecendo de perto os cuidados e comportamento de cada espécie. O que mais chama a atenção é o vínculo entre cada animal com a bióloga, o veterinário e os tratadores. Na presença deles nenhum bicho fica agitado. Porém, basta a presença de um estranho para começar uma verdadeira algazarra natural. Foram três dias de muita descoberta.

Nas aves que não possuem dimorfismo sexual, nos casos dos papagaios, araras, jandaias e alguns passeriformes, são feitos exames de DNA para saber o sexo. Depois disso, após saber o desenvolvimento sexual, são colocadas anilhas com o número de identificação, na pata direita para fêmeas, e na pata esquerda se for macho.

"Desenvolvemos ainda exames de laboratoriais, medicamentos, raio X e cirurgias e todo um acompanhamento diário para sabermos como se encontra a saúde de cada habitante natural do zoológico. Não permitimos alimentar os animais, vendas, entradas de bicicletas, fumar e consumir bebidas alcoólicas aqui. Tudo isso, para não estressar os bichos", explica a bióloga Alecsandra.

Reprodução rara

Segundo ela, já nasceram no zoológico de Canindé bichos como pavão, leão, guaxinim, quati, macaco prego, cobra jiboia, soim, cutia, muçuam, cágado pescoço de cobra e cágado tracajá. "O zoológico de Canindé é o único do Brasil a reproduzir o tracajá", frisa Henrique Weber.

Recentemente, chegou ao local uma anaconda de 4,5 metros capturada em Aquiraz e que já se encontra em sua nova morada. Papagaios cacau, goiaba, galego e papacuns também foram colocados em fase de readaptação. Quem visita o local já pode sentir o quanto o tratamento faz bem para os animais

Uma onça pintada macho vinda de João Pessoa (PB), chamado carinhosamente de Baré, outra fêmea da mesma espécie, conhecida por Luluca, um leão proveniente de Santa Catarina, batizado de Argos, e o urso Dimas formam o grupo de animais de grande porte. O plantel chama atenção de quem vem pela primeira vez conhecer o local.

Tratamento específico

Para Alecsandra Tassoni, todo o tratamento feito nos animais varia de acordo com o seu aspecto físico e nutricional.

"Nós temos no zoológico animais que fazem parte da lista de extinção no Brasil, como onça parda, pintada, jaguatirica, gato do mato pequeno, ararajuba, e que hoje se encontram em fase de adaptação muito boa", comemora a bióloga, provando o sucesso do trabalho.

MAIS INFORMAÇÕES
Zoológico de São Francisco das Chagas, Praça do Romeiro S/N Centro, Canindé
(85) 9132.6357/ 3343.1811

DEDICAÇÃO

400 animais recebem tratamento no local

Canindé.
Relatório do Zoológico de Canindé mostra que existem 56 espécies divididas em 400 animais. O tratador Pedro Rozendo da Silva, que trabalha no local há 15 anos, diz, com orgulho, que trata os animais como se fossem seus filhos. "Isso aqui é meu prazer. Ajudei a criar muitos deles e só saio daqui quando não quiserem mais meus serviços", afirma.

Bastante carinhoso, ele mostra um papagaio moleiro, considerado a maior da espécie no País. "Esse aqui chegou meio doente e hoje é uma das atrações do nosso zoológico".

O consumo de carne diária chega à média de 50 quilos, além dos alimentos nutricionais como banana, melancia, mamão, tomate, alface, beterraba, batata doce, macaxeira, repolho, girassol, gengibre, queijo, mel, maça, pera, uva, entre outros produtos. Para algumas espécies, grilos e baratinhas são selecionados como ração animal, entram no cardápio.

"A ordem é tratá-los da melhor forma possível. Os animais também são seres vivos que têm o mesmo sentido de vida humana. Eles ficam tristes, sentem dores, sentem fome, tem o mesmo comportamento de um ser racional, por isso entendemos que é preciso cuidar com carinho", explica Alecsandra.

No espaço onde fica a variedade de animais silvestres, há placas orientando os visitantes e solicitando para não jogarem alimentos e nem pedras. Diariamente, o zoo de Canindé recebe a visita de estudantes da região que aproveitam para pesquisar. Os cuidados com o urso Dimas são exemplares. O animal mora numa área de 200 metros quadrados, seguindo normativas do Ibama. "Depois desse trabalho da Paróquia de São Francisco, em adaptar o Dimas, muitos outros animais foram oferecidos, mas, infelizmente, não podemos atender a todos os pedidos", diz ela.

Antônio Carlos Alves
Colaborador

(Fonte: Diário do Nordeste)

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