Por Wanderley Pereira

Eu não queria falar sobre o incidente de Canindé provocado por ativistas do PT combinados com alguns frades incomodados com a presença do senador Tasso Jereissati e do candidato a presidente da República, José Serra, na missa das 16 horas do último dia 16, durante os festejos de São Francisco. Mas como o assunto vem sendo abordado pela imprensa, inclusive pelos programas Barra Pesada e Jornal Jangadeiro de ontem, 19, resolvi dar a versão de quem esteve no local e assistiu a tudo, de perto.

Foi a única nota surpreendentemente destoante do clima tradicional da festa que testemunhei desde 1965, quando passei a ir a Canindé, terra da minha mulher. De repente, vi o celebrante identificado depois como frei Francisco Gonçalves, o “frei Chicão”, interromper o ato religioso para xingar fotógrafos, cinegrafistas e jornalistas que faziam a cobertura do evento, fato comum em todos os templos. Não conto as coberturas que fiz da presença de autoridades em cerimônias religiosas e nunca vi nenhuma reação como essa do celebrante de Canindé. E se isso fosse “uma profanação”, como sugeriu ele, teria que acabar com os casamentos nas igrejas.

Em seguida, vi que o mesmo frade repetia censuras ao comportamento das pessoas presentes, referindo-se visivelmente aos políticos do PSDB, enquanto um amplo grupo de militantes do PT, empunhando bandeiras e adesivos com a propaganda da candidata Dilma Rousseff, movimentava-se no ambiente desde as primeiras horas da manhã. Irritado, o celebrante sugeriu a retirada de Tasso com seus convidados. Até que, exibindo um panfleto contendo críticas contra a candidata do PT, assumiu a defesa de Dilma, provocando o tumulto que se estabeleceu no recinto.

A reação do senador Tasso Jereissati foi dirigir-se ao frade celebrante e dizer-lhe que ele não podia agir daquela maneira, tomando partido político pelo PT numa celebração religiosa de todos os romeiros. Tasso não disse que petistas não eram cristãos nem ofendeu o sacerdote. Houve, porem, trocas de insultos de militantes do PT e do MST com algumas pessoas indignadas com a atitude desequilibrada do celebrante. Com a minha vivência de 47 anos ininterruptos de repórter, em todo tipo de evento, vi que tudo não passou de uma armadilha adredemente preparada, com a participação de clérigos e conivência de outros do Santuário de São Francisco.

Desde cedo, quando cheguei a Canindé, percebi a predisposição contra os tucanos que dividiram sua presença em dois eventos distintos: primeiro um encontro político de Tasso e Serra com as lideranças da região; depois, às 16 horas, a participação religiosa na missa. A essa altura, o pátio da Basílica estava tomado pela militância petista e departamentos da igreja, como a Comissão de Acolhida aos Romeiros e a Sala dos Milagres, assumiam abertamente a propaganda pró Dilma. A missa, antes programada para ser celebrada pelo pároco, frei Hamilton, foi cedida para frei Chicão, vindo de Pernambuco. Outros dois frades, o deputado estadual do PT paraibano, frei Anastácio, e frei Jean Sousa, articularam o tumulto, tendo como testas-de-ferro Celso Crisóstomo, assessor do deputado federal do PT, José Nobre Guimarães, e sua prima Graça Paulino, ativista responsável pela igreja de Campos, onde frei Jean está sendo lançado candidato a prefeito de Canindé.

É de se lamentar que festejos tradicionais como os de São Francisco estejam sendo manipulados politicamente por quem tem o dever de preservá-los, em nome da própria fé e por respeito aos milhares de devotos que rejeitam o São Francisco político, porque só o conhecem por seus milagres e pela pureza da sua oração que recomenda o amor e o perdão em lugar da discriminação e da divisão entre irmãos por siglas partidárias eivadas de ódio.

Wanderley Pereira é jornalista

(Fonte: Jangadeiro OnLine)