domingo, 4 de outubro de 2009

Prostituição e fé nas romarias

Canindé/Juazeiro do Norte Festa de São Francisco, em Canindé. Romarias de Nossa Senhora das Dores, de Finados e das Candeias, em Juazeiro do Norte. Festas de Nossa Senhora da Saúde, em Fortaleza; Santo Antônio, em Barbalha; Senhora Sant´Ana, em Paramoti; Nossa Senhora de Fátima, em Baturité; e Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, em Apuiarés.
O roteiro descrito faz parte de um calendário de eventos religiosos no Estado do Ceará. Na verdade, o que parece sagrado também carrega a marca do profano. Ao mesmo tempo em que reforçam a religiosidade do povo cearense, as festas "de santo" abrem espaço para um tipo de comércio que, sob um olhar despercebido, parece estar longe dali: a prostituição.
Aproveitando o grande fluxo de pessoas nessas festas, as profissionais do sexo desenvolvem um mercado itinerante pelo Ceará. Segundo informações obtidas pelo Diário do Nordeste junto a garotas de programa, donas de casas de prostituição e ao Escritório de Enfrentamento e Prevenção ao Tráfico de Seres Humanos e Assistência à Vítima (EEPTSH), esse movimento acontece de formas diversas.
Em uma delas, as garotas se deslocam sozinhas entre os municípios, geralmente apenas para aproveitar a festa ou a romaria. Algumas vezes, a passagem é paga pelas "madames" - como são conhecidas as proprietárias dos cabarés disfarçados de bares. Em outras, a prostituta aparece até mesmo de surpresa. "Muitas nem avisam quando vêm", atesta, Diva (nome fictício*), 41. Em todos, porém, o dinheiro do programa - que varia de R$ 20,00 a R$ 40,00 - é dividido com as "madames", pois nesse valor está incluso o aluguel dos quartos onde acontecem os programas.
Outra forma é quando as prostitutas se juntam para passar a noite em festas religiosas. Dona de um "bar" em Canindé, Sebastiana (*), 54, conta que já se deslocou para um município onde estava havendo uma romaria, conduzindo 20 prostitutas. Para isso, fretou uma caminhonete, no valor de R$ 300,00, rateado entre todas as garotas.
Ao chegar no local da festa, a "madame" monta uma barraquinha para venda de comidas e bebidas, enquanto as moças se oferecem para os clientes. "Elas fazem (sexo) em todo canto, até no meio do mato", revela, garantindo não obter percentual sobre o lucro das prostitutas.
O último dos casos são mulheres e travestis que atuam, por conta própria, circulando entre os locais da festa ou em pontos estratégicos da cidade em busca de clientes. Postos de gasolina, praças, barracas e bares são alguns deles. Nesse caso, a realização do programa pode acontecer em carros, motéis, ranchos e lugares públicos, mas escondidos, como os matagais.
Antes da edição 2009 da Festa de São Francisco, que se encerra hoje, em Canindé, Loreane (*), 38, mantinha três "prostitutas" no cabaré e aguardava a chegada de outras. "Elas precisam disso (da prostituição), estão acostumadas a viver disso. Não vão deixar nunca de fazer programa", opina.

ÍCARO JOATHAN
REPÓRTER
(Fonte: Diário do Nordeste Online)

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