quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Ceará - Analfabetismo cai, mas há 1 mi que não sabe ler

No Estado, cerca de 80% das pessoas frequentam escolas públicas, em detrimento das particulares

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2009, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra avanços em alguns indicadores, mas outros ainda não alcançaram uma situação confortável. Um deles é o analfabetismo. Apesar de o Ceará ter sofrido uma leve queda, a pesquisa apontou que mais de um milhão de pessoas com menos de cinco anos de idade ainda são analfabetas. A taxa estava em torno de 18%, em 2009, e de 19,75%, em 2008. Do total de mais de sete milhões de pessoas pesquisadas, 1,1 milhão não possuíam instrução ou tinham menos de um ano de estudo.

No Nordeste, 18,7% da população é analfabeta, ante 19,4%, em 2008, e 22,4%, em 2005. O Brasil conseguiu chegar a menos de 10% de analfabetos, pela primeira vez na história, apesar de a queda ter sido de apenas 0,7% entre 2008 e 2009. O País contava, em 2009, com 14,1 milhões de pessoas sem alfabetização, o que corresponde a 9,7% do total da população com 15 anos ou mais de idade.

Por outro lado, as escolas públicas, hoje, são mais procuradas. No Ceará, quase 80% das pessoas frequentavam o sistema público de ensino em 2009. Apesar de ter havido uma redução entre os anos de 2008 e 2009, passando de 80,35% para 79,76%, o índice é considerado bastante significativo.

A Pnad também mostrou que o serviço de esgotamento sanitário nos domicílios cearenses registrou queda de 14,68%.

Questões culturais

Para o mestre em Educação Marco Aurélio de Patrício Ribeiro, por questões culturais e socioeconômicas, o Ceará possui um índice de analfabetismo elevado. "Aqui, o alto índice de evasão escolar ainda é uma das principais consequências do desinteresse do aluno pela unidade de ensino. Além disso, o educador se depara com alunos com deficiências e problemas em sala de aula que os do Sul, por exemplo, não têm. São diferenças sociais gritantes", enfatiza o especialista.

Quanto ao fato de as escolas públicas terem um público maior, Marco Aurélio explica que essa é a única opção que boa parte da população do Ceará tem. "O aluno de escola pública desejaria estudar em colégios pagos se tivesse condições. Mas, para a família e para o próprio estudante, essa é a tábua de salvação para uma vida melhor. O colégio ainda é um espaço confiável para os estudantes", destaca Ribeiro.

Qualidade

No entanto, ele acrescenta que existem escolas públicas espetaculares, como as militares e as técnicas, mas também há aquelas que não apresentam uma boa qualidade de ensino. Assim como existem particulares de níveis diferentes.

A costureira Ana Cláudia Maia dos Santos, de 27 anos, acredita no ensino das unidades municipais e estaduais. Ela tem três filhos que frequentam o sistema gratuito e afirma que a unidade de ensino é boa. "Meus filhos têm várias atividades à disposição deles no colégio, além de que fica perto da minha casa", informa.

Já Maria Nailza da Costa Santos, costureira, de 25 anos, diz que há muita negligência nas escolas públicas. "Muitas crianças não frequentam as aulas e acabam passando. Há algo de errado nisso. Meus dois filhos estão sempre presentes nas aulas e acabam tendo os mesmos direitos que os outros".

Para Marco Aurélio de Patrício Ribeiro, as escolas estaduais, federais ou municipais têm melhorado, mas a mudança é lenta, apesar de ser gradual. Segundo ele, um dos pontos positivos das unidades públicas de ensino é que elas são extremamente inclusivas.

"Houve uma grande evolução no ensino gratuito nos últimos dez anos. Hoje, já se discute a qualidade das unidades. Antes, a pauta de discussão girava em torno das questões estruturais. Faltava até mesmo a estrutura básica nos colégios públicos. A escola está começando a acertar", ressalta.

Brasil

O mestre em Educação Marco Aurélio Ribeiro considera que, no Brasil, o índice de menos de 10% é louvável. Para ele, o analfabetismo é um dos problemas que o País tem conseguido vencer, mesmo com as dificuldades. "Hoje, temos programas federais que contribuem para a redução dos índices negativos, tais como o Paic (Programa Alfabetização na Idade Certa)", exemplifica ele.

O especialista aponta dois problemas que ainda são empecilhos para a educação, ou seja, a falta de capacitação dos professores e a atitude dos alunos em sala de aula, já que, muitas vezes, eles vêm de um ambiente violento. Porém, 10% ainda é um índice preocupante, apesar de o País passar por uma escala de redução. Nos próximos 20 anos, Marco Aurélio de Patrício Ribeiro acredita que o analfabetismo será extinto no Brasil.

A Secretaria da Educação do Estado do Ceará (Seduc) não quis se pronunciar sobre os dados divulgados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios porque, de acordo com a assessoria de imprensa, o órgão tinha acabado de obter as informações e ainda não havia se inteirado da pesquisa. Leia mais em Negócios

Evasão

"A permanência da criança na escola ainda é um problema, no Ceará, porque é desinteressante"
Marco Aurélio de Patrício Ribeiro
Mestre em Educação

ABASTECIMENTO
Saneamento básico teve melhorias

Os números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2009 apontam um saldo positivo com relação ao saneamento básico, isso no que concerne a coleta de lixo e abastecimento d´água no Ceará. Porém, devido as mudanças de critérios na pesquisa, onde não leva-se mais em conta as fossas sépticas não ligadas a rede coletora e nem as rudimentares, a parte de esgotamento sanitário registrou queda de 14,68%.

Em 2008, o total de domicílios com o serviço era de 2.159 milhões, isso dentro de um universo de 2.373 milhões de residências. Já em 2009, esse número caiu para 1.842 milhões, quando o total de residências é de 2.393 milhões. Isso porque na Pnad 2009 só são contabilizados os domicílios que têm esgotamento ligado a rede coletora.

Com relação ao abastecimento de água, o Estado registrou um aumento tímido de 5,2% em relação a 2008, em que o total de residências atendidas pela rede geral era de 1.954 milhão. Na pesquisa de 2009, esse número equivale a 2.057 milhões. De acordo com a pesquisa, existe, ainda no Ceará, um total de 335 mil residências sem acesso ao abastecimento d´água.

Serviço

Porém, muito ainda tem que ser feito para que, pelo menos o serviço de esgotamento sanitário, tenha uma maior abrangência. Pois até o momento, na Capital cearense, ele só serve a 52% dos bairros da cidade. O que gera, muitas vezes, reclamações por parte da população das áreas não atingidas.

É o caso do trabalhador autônomo Cleiton Ferreira Lima, 30 anos, morador do bairro Pirambu. "Veja só, a maior parte do bairro tem o serviço, mas onde eu moro não tem, e há tempos ficaram de implantar aqui, mas até agora nada. Enquanto isso tudo corre pro mar mesmo".

O diretor de Operações da Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), André Facó, informou que a rede coletora de esgoto registrou de 2006 a 2010 um aumento de 15% na abrangência do serviço.

"Em termos de ligação, nós tínhamos, em 2006, 381 mil. Já em julho deste ano, esse número saltou para 441 mil. Isso reflete o investimento de R$ 350 milhões por parte da Companhia", garantiu Facó.

Ele informou, ainda, que a Cagece tem a pretensão de, em 2020, universalizar o serviço, pelo menos na Capital. "Estimamos que o investimento seja em torno de R$ 700 mi a R$ 800 mi"

Além disso, o diretor informou que um dos maiores problemas enfrentados para que esse serviço acelere, é pela questão dos custo das obras. "Os recursos são muito elevados, os projetos são muito caros. Para se ter uma ideia, foram investidos R$ 350 milhões só para fazer 60 mil ligações de esgoto. Sem falar na captação de recursos".

O diretor de Operações da Cagece acrescentou, também, a questão da demora das obras, isso em virtude de outras interferência. "Como as construções desses projetos são subterrâneas, nós precisamos de todo o cuidado para não prejudicar outros serviços, como de gás, energia, telefonia, entre outros".

André Facó acrescentou que em termos de tarifa, a Cagece é a terceira com menor cobrança no Brasil.

OPINIÃO DO ESPECIALISTA
A importância das Metas do Milênio

Rogério campos
Professor da Unifor

Em setembro de 2000, após uma década de conferências e reuniões de cúpula da ONU, líderes mundiais se reuniram em sua sede em Nova York para adotar a Declaração do Milênio das Nações Unidas.

A partir de então, foi estabelecida uma parceria global a fim de reduzir a pobreza extrema e adotar uma série de metas obrigatórias - com prazo de atendimento até 2015 - que se tornaram conhecidas como Metas de Desenvolvimento do Milênio.

A Meta 7: "Garantir a Sustentabilidade Ambiental", diz em seu Alvo 3: "Reduzir pela metade, até 2015, a proporção da população sem acesso sustentável à água potável e saneamento básico". Um quesito fundamental da Meta 7 e seu Alvo 3 é a sustentabilidade do serviço prestado. Ou seja, não somente o seu simples atendimento é suficiente. Será que há cumprimento desta exigência?

INEXPRESSIVO
Coleta de lixo apresenta aumento de 4,4%

A coleta de lixo no Estado também registrou um aumento tímido de 4,4% em relação ao ano anterior, quando o serviço só atendia a 1,520 milhão de domicílios. Em 2009, esse número subiu para 1,587 milhão. Atualmente, o serviço de coleta de lixo na Capital abrange 1,019 milhão de casas, em 2008, esse número era de um milhão.

Segundo informações da Empresa Municipal de Limpeza e Urbanização (Emlurb) de Fortaleza, cerca de 90 toneladas mensais de lixo são coletadas na Capital. Esses resíduos são recolhidos pela empresa Ecofor, por meio de contratos com a administração pública de Fortaleza. São de responsabilidade da empresa o gerenciamento da coleta e o destino final dos resíduos sólidos, bem como a aplicação da melhor metodologia de monitoramento dos serviços de limpeza e destino final na Capital.

O método operacional usado na Capital é o transporte do lixo coletado nas residências para a Estação de Transbordo do Jangurussu. Ali, os materiais trazidos por caminhões compactadores são triados por catadores, constituídos em cooperativa. A triagem começa na esteira, onde são retirados os produtos com fins recicláveis. Os demais resíduos são destinados para o Aterro Sanitário Metropolitano Oeste de Caucaia (Asmoc).

(Fonte: Diário do Nordeste)

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