A "greve branca" deflagrada pelos policiais militares em Fortaleza se estendeu, ontem, por toda a Região Metropolitana e por vários batalhões e companhias da Corporação situados no Interior do Estado. Desde a manhã de segunda-feira até o fim da noite passada, praticamente todas as viaturas empregadas no policiamento da Grande Fortaleza - cerca de 200 - estavam paradas nos pátios dos quartéis. Pela manhã, apenas seis haviam sido conectadas à Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança (Ciops). À tarde, esse número passou para nove.
Até por volta das 19 horas, a Ciops havia deixado de atender à 257 ocorrências. Eram chamadas feitas - via telefone - pela população para solucionar ocorrências como assalto, roubo ou furtos de veículos, briga de vizinhos, agressão, ameaça e até registro de som em alto volume. "Desculpe senhor, mas nenhuma ocorrência está sendo atendida. Não há viaturas disponíveis", repetiam as telefonistas da Ciops aos cidadão da Capital durante toda a terça-feira.
Desguarnecida
Na noite de segunda-feira e a madrugada de ontem, a cidade ficou completamente desguarnecida. Em companhias como a 3ª Cia/5º BPM, no Pirambu, as 19 viaturas do Ronda do Quarteirão e do Policiamento Ostensivo Geral (POG) foram ´entregues´ pelos PMs motoristas aos seus superiores. Alegando que os veículos não estavam com seus documentos, os militares se recusaram a dirigi-los. Além disso, argumentavam que não possuem o curso de habilitação para veículos de emergência, conforme exige o Código de Trânsito Brasileiro (CTB).
O argumento, no entanto, foi apenas um pretexto dos PMs para cruzarem os braços, pois a categoria vem lutando há meses para que sejam implementadas as suas verdadeiras reivindicações: redução da jornada de trabalho (de 48 para 40 horas semanais), adoção de um plano de saúde e aumento salarial.
No pátio externo do Comando do Policiamento da Capital (CPC), na Praça José Bonifácio, Centro, o quadro visto durante o dia de ontem foi o mesmo da segunda-feira passada. Dezenas de Hilux do Ronda do Quarteirão e das companhias que integram o 5º e o 6º batalhões ficaram estacionadas. Os PMs entregaram as chaves dos carros aos seus comandantes. Alguns informaram que iriam ficar nos quartéis. Outros disseram que fariam o policiamento a pé, como acontecera na tarde anterior. Só na área da 3ª Companhia, 13 bairros ficaram sem patrulhamento entre as 22 horas de segunda-feira e o fim da noite passado. Os Municípios de Caucaia e Maracanaú foram os mais atingidos na Região Metropolitana de Fortaleza.
Trégua
Ainda pela manhã, a movimentação de PMs no Comando do Policiamento da Capital foi intenso e somente por volta de 11 horas os militares deram uma rápida trégua no movimento, quando foram chamados para uma operação de desocupação do ´esqueleto´ do antigo Beco da Poeira, no Centro. Mesmo assim, muitos se dirigiram ao local mostrando-se insatisfeitos. Como a operação acabou não sendo efetivada, a maioria dos PMs foi embora dali mesmo, sem retornar aos quartéis.
Desde domingo passado, os militares iniciaram o que eles chamaram de ´mobilização pelo movimento´. Na semana passada, um encontro realizado no Centro Poliesportivo da Parangaba decidiu pela ´greve branca´ a partir de domingo, quando foi montada a operação ´Tolerância Zero´. No mesmo dia, mulheres de PMs conseguiram fechar o quartel do Batalhão de Polícia de Choque (BpChoque), impedindo a tropa de seguir para o estádio castelão para fazer o policiamento do jogo entre Ceará e Fortaleza, decisivo para o Campeonato Cearense.
Durante todo o dia, apenas os policiais da equipe Raio(Rondas de Ações Intensivas e Ostensivas) trabalharam no patrulhamento das ruas. Mas, por volta das 16 horas - durante a troca de turno - os militares daquela unidade de elite também aderiram ao movimento e deixaram de lado o policiamento.
Crimes
Entre a noite de segunda-feira e a tarde de ontem, a Ciops registrou seis casos de homicídio na Grande Fortaleza. Os crimes aconteceram nos bairros Planalto Ayrton Senna, Conjunto São Cristóvão, Vicente Pinzón, Barra do Ceará, Boa Vista e no Novo Maracanaú. Em nenhum dos casos houve prisão em flagrante dos criminosos. Contudo, as autoridades preferiram não atribuir a sequência de mortes à falta de patrulhamento nos locais onde os quatro de morte crimes aconteceram.
No começo da noite passada, após um encontro entre as autoridades e lideranças da categoria, na Procuradoria Geral da Justiça (PGJ), a expectativa era de que, no turno C (das 22 às 6 horas) o policiamento voltasse à normalidade. Entretanto, até as primeiras horas desta quarta-feira ainda havia muitas viaturas paradas nos pátios ou ruas próximas dos quartéis.
Frota parada
200 viaturas que fazem o patrulhamento diário na Grande Fortaleza ficaram paradas. O setor da Segurança Pública acabou sendo desativado
BRAÇOS CRUZADOS
Tropa demonstra resistência no movimento
Insatisfação e resistência. Este era o clima, ontem pela manhã, entre os policiais militares que continuavam no que chamavam de operação ´Polícia Legal´. Com uma cópia do artigo 145 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) nas mãos, que estabelece a obrigatoriedade de ser aprovado em curso de treinamento de prática veicular em situação de risco para pilotar um veículo como uma viatura, por exemplo, os PMs paravam cada vez mais viaturas nas companhias.
"Não vamos voltar atrás, estamos cumprindo a Lei", disse um soldado. O sargento, ao lado, reforçou. "Precisamos nos unir, aproveitar que o movimento está forte e tem o apoio da sociedade", disse.
É agora
Pátios lotados de viaturas, policiais a pé nas praças. No estacionamento do 5 Batalhão da PM, pelo menos 12 viaturas do Ronda do Quarteirão foram deixadas até ontem pela manhã. Ainda ontem, informações de que o Comando Tático Motorizado (Cotam) e o grupo Raio (Rondas de Ações Intensivas e Ostensivas) tinham parado chegavam à Imprensa. "Vamos parar tudo, a hora é agora", divulgavam policiais pela internet.
O movimento ficou tenso no meio da manhã de ontem quando um grupo de PMs dos Batalhão de Choque foi obrigado a deixar o quartel do 5º BPM e ir até o ´esqueleto´, onde ainda pairavam dúvidas sobre a ordem de desocupação dos permissionários.
"Não há uma determinação judicial, os policiais não vão agir sem o resguardo da Lei. Não foi apresentado qualquer mandado de despejo. Os PMs estão apreensivos com essa pressão que vem sofrendo. Pedimos ao governador que haja com sensibilidade", disse Flávio Sabino, vice-presidente da Associação de Cabos e Soldados do Estado do Ceará (Acsce).
Enquanto os PMs cercavam o prédio no Centro, esposas de militares já chegavam ao local para protestar. Na Região Metropolitana o movimento já tinha total adesão dos policiais militares e, em Canindé, um protesto já tinha sido iniciado na tarde de ontem, sinalizando que o Interior do Estado estava aderindo ao movimento.
Na Cavalaria
Enquanto a maioria dos policiais militares se concentravam na área Central de Fortaleza, em outra ´frente´, as integrantes da Associação das Esposas dos Praças Militares continuavam seus protestos. No meio da tarde chegava a informação de que parte do grupo havia se dirigido ao portão principal do quartel da Cavalaria, na Avenida Washington Soares, em Messejana.
Outra parte seguiu para a sede da Procuradoria Geral da Justiça (PGJ), no Centro, para participar da reunião entre a procuradora-geral, Socorro França; o secretário da Segurança Pública e Defesa Social, Roberto Monteiro; e os comandantes da PM, coronel William Alves Rocha, e do Corpo de Bombeiros, João Vasconcelos. Ao encontro também esteve presente o secretário-executivo da SSPDS, coronel PM Joel Costa Brasil.
MOBILIZAÇÃO
Militares vão realizar uma caminhada na Beira-Mar
Para ´engrossar´ o movimento, a Associação dos Praças Militares do Estado do Ceará (Aspramece) prometeu realizar, na manhã do próximo sábado, uma passeata na Avenida Beira-Mar, para chamar a atenção da sociedade cearense sobre os pleitos dos policiais militares.
"Queremos reunir mais de 30 mil pessoas no evento e, para isso, estamos convocando a sociedade em geral para vir se juntar a nós. Queremos também que participem da caminhadas as famílias das vítimas dos mais de 500 homicídios ocorridos este ano", disse o subtenente Pedro Queiroz, presidente da entidade. Segundo ele, o objetivo é repetir o sucesso que foi alcançado na manifestação realizada em defesa da Proposta de Emenda Constitucional de número 300 (a PEC 300), que tenta nivelar os salários dos PMs de todo o País com o soldo dos colegas do Distrito Federal.
Até por volta das 19 horas, a Ciops havia deixado de atender à 257 ocorrências. Eram chamadas feitas - via telefone - pela população para solucionar ocorrências como assalto, roubo ou furtos de veículos, briga de vizinhos, agressão, ameaça e até registro de som em alto volume. "Desculpe senhor, mas nenhuma ocorrência está sendo atendida. Não há viaturas disponíveis", repetiam as telefonistas da Ciops aos cidadão da Capital durante toda a terça-feira.
Desguarnecida
Na noite de segunda-feira e a madrugada de ontem, a cidade ficou completamente desguarnecida. Em companhias como a 3ª Cia/5º BPM, no Pirambu, as 19 viaturas do Ronda do Quarteirão e do Policiamento Ostensivo Geral (POG) foram ´entregues´ pelos PMs motoristas aos seus superiores. Alegando que os veículos não estavam com seus documentos, os militares se recusaram a dirigi-los. Além disso, argumentavam que não possuem o curso de habilitação para veículos de emergência, conforme exige o Código de Trânsito Brasileiro (CTB).
O argumento, no entanto, foi apenas um pretexto dos PMs para cruzarem os braços, pois a categoria vem lutando há meses para que sejam implementadas as suas verdadeiras reivindicações: redução da jornada de trabalho (de 48 para 40 horas semanais), adoção de um plano de saúde e aumento salarial.
No pátio externo do Comando do Policiamento da Capital (CPC), na Praça José Bonifácio, Centro, o quadro visto durante o dia de ontem foi o mesmo da segunda-feira passada. Dezenas de Hilux do Ronda do Quarteirão e das companhias que integram o 5º e o 6º batalhões ficaram estacionadas. Os PMs entregaram as chaves dos carros aos seus comandantes. Alguns informaram que iriam ficar nos quartéis. Outros disseram que fariam o policiamento a pé, como acontecera na tarde anterior. Só na área da 3ª Companhia, 13 bairros ficaram sem patrulhamento entre as 22 horas de segunda-feira e o fim da noite passado. Os Municípios de Caucaia e Maracanaú foram os mais atingidos na Região Metropolitana de Fortaleza.
Trégua
Ainda pela manhã, a movimentação de PMs no Comando do Policiamento da Capital foi intenso e somente por volta de 11 horas os militares deram uma rápida trégua no movimento, quando foram chamados para uma operação de desocupação do ´esqueleto´ do antigo Beco da Poeira, no Centro. Mesmo assim, muitos se dirigiram ao local mostrando-se insatisfeitos. Como a operação acabou não sendo efetivada, a maioria dos PMs foi embora dali mesmo, sem retornar aos quartéis.
Desde domingo passado, os militares iniciaram o que eles chamaram de ´mobilização pelo movimento´. Na semana passada, um encontro realizado no Centro Poliesportivo da Parangaba decidiu pela ´greve branca´ a partir de domingo, quando foi montada a operação ´Tolerância Zero´. No mesmo dia, mulheres de PMs conseguiram fechar o quartel do Batalhão de Polícia de Choque (BpChoque), impedindo a tropa de seguir para o estádio castelão para fazer o policiamento do jogo entre Ceará e Fortaleza, decisivo para o Campeonato Cearense.
Durante todo o dia, apenas os policiais da equipe Raio(Rondas de Ações Intensivas e Ostensivas) trabalharam no patrulhamento das ruas. Mas, por volta das 16 horas - durante a troca de turno - os militares daquela unidade de elite também aderiram ao movimento e deixaram de lado o policiamento.
Crimes
Entre a noite de segunda-feira e a tarde de ontem, a Ciops registrou seis casos de homicídio na Grande Fortaleza. Os crimes aconteceram nos bairros Planalto Ayrton Senna, Conjunto São Cristóvão, Vicente Pinzón, Barra do Ceará, Boa Vista e no Novo Maracanaú. Em nenhum dos casos houve prisão em flagrante dos criminosos. Contudo, as autoridades preferiram não atribuir a sequência de mortes à falta de patrulhamento nos locais onde os quatro de morte crimes aconteceram.
No começo da noite passada, após um encontro entre as autoridades e lideranças da categoria, na Procuradoria Geral da Justiça (PGJ), a expectativa era de que, no turno C (das 22 às 6 horas) o policiamento voltasse à normalidade. Entretanto, até as primeiras horas desta quarta-feira ainda havia muitas viaturas paradas nos pátios ou ruas próximas dos quartéis.
Frota parada
200 viaturas que fazem o patrulhamento diário na Grande Fortaleza ficaram paradas. O setor da Segurança Pública acabou sendo desativado
BRAÇOS CRUZADOS
Tropa demonstra resistência no movimento
Insatisfação e resistência. Este era o clima, ontem pela manhã, entre os policiais militares que continuavam no que chamavam de operação ´Polícia Legal´. Com uma cópia do artigo 145 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) nas mãos, que estabelece a obrigatoriedade de ser aprovado em curso de treinamento de prática veicular em situação de risco para pilotar um veículo como uma viatura, por exemplo, os PMs paravam cada vez mais viaturas nas companhias.
"Não vamos voltar atrás, estamos cumprindo a Lei", disse um soldado. O sargento, ao lado, reforçou. "Precisamos nos unir, aproveitar que o movimento está forte e tem o apoio da sociedade", disse.
É agora
Pátios lotados de viaturas, policiais a pé nas praças. No estacionamento do 5 Batalhão da PM, pelo menos 12 viaturas do Ronda do Quarteirão foram deixadas até ontem pela manhã. Ainda ontem, informações de que o Comando Tático Motorizado (Cotam) e o grupo Raio (Rondas de Ações Intensivas e Ostensivas) tinham parado chegavam à Imprensa. "Vamos parar tudo, a hora é agora", divulgavam policiais pela internet.
O movimento ficou tenso no meio da manhã de ontem quando um grupo de PMs dos Batalhão de Choque foi obrigado a deixar o quartel do 5º BPM e ir até o ´esqueleto´, onde ainda pairavam dúvidas sobre a ordem de desocupação dos permissionários.
"Não há uma determinação judicial, os policiais não vão agir sem o resguardo da Lei. Não foi apresentado qualquer mandado de despejo. Os PMs estão apreensivos com essa pressão que vem sofrendo. Pedimos ao governador que haja com sensibilidade", disse Flávio Sabino, vice-presidente da Associação de Cabos e Soldados do Estado do Ceará (Acsce).
Enquanto os PMs cercavam o prédio no Centro, esposas de militares já chegavam ao local para protestar. Na Região Metropolitana o movimento já tinha total adesão dos policiais militares e, em Canindé, um protesto já tinha sido iniciado na tarde de ontem, sinalizando que o Interior do Estado estava aderindo ao movimento.
Na Cavalaria
Enquanto a maioria dos policiais militares se concentravam na área Central de Fortaleza, em outra ´frente´, as integrantes da Associação das Esposas dos Praças Militares continuavam seus protestos. No meio da tarde chegava a informação de que parte do grupo havia se dirigido ao portão principal do quartel da Cavalaria, na Avenida Washington Soares, em Messejana.
Outra parte seguiu para a sede da Procuradoria Geral da Justiça (PGJ), no Centro, para participar da reunião entre a procuradora-geral, Socorro França; o secretário da Segurança Pública e Defesa Social, Roberto Monteiro; e os comandantes da PM, coronel William Alves Rocha, e do Corpo de Bombeiros, João Vasconcelos. Ao encontro também esteve presente o secretário-executivo da SSPDS, coronel PM Joel Costa Brasil.
MOBILIZAÇÃO
Militares vão realizar uma caminhada na Beira-Mar
Para ´engrossar´ o movimento, a Associação dos Praças Militares do Estado do Ceará (Aspramece) prometeu realizar, na manhã do próximo sábado, uma passeata na Avenida Beira-Mar, para chamar a atenção da sociedade cearense sobre os pleitos dos policiais militares.
"Queremos reunir mais de 30 mil pessoas no evento e, para isso, estamos convocando a sociedade em geral para vir se juntar a nós. Queremos também que participem da caminhadas as famílias das vítimas dos mais de 500 homicídios ocorridos este ano", disse o subtenente Pedro Queiroz, presidente da entidade. Segundo ele, o objetivo é repetir o sucesso que foi alcançado na manifestação realizada em defesa da Proposta de Emenda Constitucional de número 300 (a PEC 300), que tenta nivelar os salários dos PMs de todo o País com o soldo dos colegas do Distrito Federal.
(Fonte: Diário do Nordeste)
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