sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Fé, suor e devoção em Canindé

Há uma década, Tereza Maria de Jesus, 71, faz uma caminhada sagrada. Imitando o calvário de Cristo, ela percorre a chamada Via-Sacra do Monte, uma rua que começa na Igreja de Nossa Senhora das Dores e termina na ermida do Monte, a igrejinha de Cristo Rei. Dona Tereza mora em Teresina (PI) e sempre vai a Canindé para a Via-Sacra. Leva o neto Lauro Francisco, 14, para se apoiar na subida.


Como todos os romeiros que fazem o trajeto, a piauiense carrega uma pedra na cabeça. Ela para em cada uma das 14 estações (locais que lembram os que Jesus parou no caminho para a crucificação) e troca a pedra. Nem parece cansada com a subida. “São Francisco me protege. Devo a minha saúde a ele e a Deus, por isso faço todos os anos essa romaria”.


A graça da saúde também é motivo para a família Neves percorrer a Via-Sacra. Maria das Graças, Fábio José e Terezinha Neves (mãe, filho e nora) são de Caxias (MA) e se vestiram de marrom, lembrando o hábito de São Francisco, para ir à Canindé. “Estamos aqui desde a segunda-feira passada e só voltamos no próximo domingo, depois da procissão”. A caminhada pelas ruas do Centro, seguindo o andor com a imagem do padroeiro, ocorrerá no fim da tarde de domingo, encerrando a 252ª. Festa de São Francisco das Chagas.


Os romeiros que lotam a cidade se apinham, de hora em hora, na praça da Gruta e nas demais igrejas para assistir às celebrações eucarísticas. “Sejam todos bem-vindos os que aqui vieram para saudar São Francisco, o santo que mais se assemelhou a Jesus Cristo no sofrimento. Ele viveu a doutrina do amor ao próximo”, dizia ontem o monsenhor Amilcar Mota, um dos celebrantes.


Multidão

Na avaliação do pároco, entre 800 mil a 1 milhão de fiéis devem visitar Canindé até o domingo. Eles entram na Basílica ou Santuário descalços, de joelhos, com vestes de cor marrom e vão até o altar para o momento de oração.

Também acendem velas para agradecer graças alcançadas e depositam ex-votos (figuras esculpidas em madeira representando partes do corpo que estavam doentes) no grande salão ao lado da Basílica. “O romeiro paga a sua promessa e traz um dinheirinho separado para comprar lembranças. As vendas estão boas nestes últimos dias”, destaca o vendedor ambulante Antônio Rodrigues, que vende santinhos, fitas, medalhas, terços, imagens e outros objetos que lembram São Francisco.

E-MAIS

> Muitos grupos de romeiros saem à pé de suas cidades para ir à Canindé. Caminham sempre na madrugada, início e fim do dia. Nos horários de sol forte, descansam em abrigos. Joaci dos Santos, o “Bigode”, é um dos que acolhe caminheiros. Ele tem uma mercearia com um alpendre onde são armadas as redes para o descanso.

> Ao longo da BR-020 estão construídos os abrigos do projeto “Caminhos de Assis”, do Governo do Estado, que vai acolher os caminheiros que saírem de Fortaleza até Canindé. Pertinho do comércio de “Bigode” (em Campos Belos, Caridade) tem um deles. “Enquanto não fica todo pronto, a gente dá o apoio. Há 25 anos que recebo os romeiros com alimentação, local para o descanso e banheiros”, disse o comerciante.

(Fonte: O POVO)

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